quarta-feira, 19 de março de 2008

Futebol: Sol e Sombra



Importado de Inglaterra, o futebol foi apropriado pelos crioulos e imigrantes pobres nas margens do rio da Prata e do Rio de Janeiro, no início do século XX, passando de um mero jogo da elite a algo muito diferente: um exótico, fascinante e sensual espectáculo de virtuosos que jogavam “pelo puro prazer do corpo que se lança na proibida aventura da liberdade”.
Um jogo de paixões, que fazia desmaiar as senhoras da alta sociedade do Rio e levava ao suicídio, em pleno campo, de jogadores uruguaios caídos em desgraça.
Descendente dos rituais astecas, filho do tango, do samba e da capoeira, da sombra da miséria e do sol dos sonhos de glória: é a esse jogo de estilo latino, à sua tradição de virtuosismo e aos seus cultores, em todo o mundo e ao longo dos tempos, que Eduardo Galeano presta homenagem.
Textos curtos, incisivos e sábios, como passes para golo na grande área da memória. Um golo perfeito, resgatado de uma longínqua tarde de domingo.
Inclui um prefácio de Manuel Jorge Marmelo.

Autor: Eduardo Galeano
Título original: El fútbol a sol y sombra
Tradução: Piedade Pires
Editora: Livros de Areia
ISBN: 9729982945 / 9789729982941
Páginas: 188
Preço de editor: 12,00€

«Em 1930, Albert Camus era o São Pedro que guardava os portões da baliza da equipa da Universidade de Argel. Tinha-se acostumado a jogar como guarda-redes desde criança, porque esse era o posto em que menos se gastavam os sapatos. Filho de casa pobre, Camus não podia dar-se ao luxo de correr pelos campos de jogo: todas as noites, a avó fazia uma inspecção às solas dos seus sapatos e dava-lhe uma tareia se as visse gastas.
Durante os seus anos de guarda-redes, Camus aprendeu muitas coisas:
- Aprendi que a bola nunca vem até nós por onde a esperamos. Isso ajudou-me durante a vida, sobretudo nas grandes cidades, onde as pessoas não costumam ser proprimente rectas.
Também aprendeu a ganhar sem se sentir um Deus e a perder sem se sentir lixo, difíceis sabedorias, e aprendeu alguns dos mistérios da alma humana, em cujos labirintos soube penetrar depois, numa perigosa viagem, ao longo da sua obra.»

pág.70

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